terça-feira, março 29, 2005

Letra a Letra: Um nome lindo.

Infelizmente, e por motivos alheios à minha vontade, queria postar estas linhas no dia em que o falecimento da minha maior amiga fazia um ano.
Nesse dia, "falei" com ela e prometi-lhe o que vão ler nas linhas seguintes, com um pedido de desculpas pelo atraso.


Ainda não digeri a tua partida,
Talvez não queira até perceber,
Que esta é a Lei da Vida,
Que findou o que te fazia sofrer.

Assisti "in loco" àquelas horas más,
O teu sofrimento, aquele inferno,
Tudo isso agora ficou para trás,
Encontraste por fim Descanso Eterno.

No mesmo dia em que partiste,
Numa luta imensa que querias ganhar,
Enquanto te afagava o cabelo, os olhos abriste,
Como se me reconhecesses e quisesses falar.

Mas a traiçoeira Morte não acedeu ao que pedias,
Ao percebê-lo pensei então para comigo,
Fitei-te nos olhos, sorri pois sei o que dirias:
Embora partisses, no coração iria contigo!

Enfrentaste-a sem soltar um só ai,
De frente, com a maior de toda a coragem,
Com a poesia que herdei do teu pai,
Com caneta, papel e amor te presto Homenagem.

São nove as letras de um nome lindo,
Dizê-lo sem chorar tanto me custa,
Mas espero que quando o der por findo,
A mensagem que passe seja a mais justa.

Começa o teu nome num E de esperança,
E embora não seja letra primeira do alfabeto,
Terás sempre para mim a liderança,
Na amizade, no Amor, na Bondade, no afecto.

A letra depois dessa é um S,
De simplicidade, serenidade, simpatia,
Seria tão bom se eu pudesse,
Adiar sempre tão triste dia.

A seguir é o M, de Miguel,
E sinto na garganta apertar um nó,
Mas fui eu quem te entregou esse novo papel,
Que te deu tanta alegria, fazer de ti avó.

E outro E, vem novamente,
Perfilar-se após, como que em sentido,
E no meio de tanta gente,
Tive sorte, fui o teu menino querido.

O R, de tantas e inúteis ralações,
No meio do nome se veio intrometer,
Acabava com essas tristes recordações,
Se pudesse hoje o tempo retroceder.

O A, corre e grita que é primeiro no Amor,
Coloco-o no nome sem que ele se esquive,
E lembro os afagos, o carinho, o calor,
Dos teus braços, do teu colo, o melhor que sempre tive.

O L, de Luís, cá estou eu outra vez,
De Linda, Lutadora, até no fim da vida,
Revi na memória tudo o que a gente fez,
Desde o começo até à nossa despedida.

D, de desculpa se não fui o mais perfeito,
Mas nunca te quis magoar ou fazer mal,
E fica uma ferida aberta a doer no meu peito,
A morte levou-te, espetando-me no coração o seu punhal.

O último A chegou, este o do Adeus,
O teu nome está completo por fim,
Que saibas que amarei os filhos e netos meus,
Como tu, minha querida, me amaste a mim.

E quem porventura estas palavras ouvir ou ler,
Lamentará como eu a tua partida, tua morte,
Terá algo decerto também para te agradecer,
Eu, só por teres sido a minha avó, fui abençoado pela sorte.

Com um beijo de despedida, o último pedido meu,
Mesmo sabendo que já nos deixaste,
Toma conta de nós todos aí do Céu,
Da mesma forma que na Terra cuidaste.