segunda-feira, março 21, 2005

Este mar enorme...

Hoje fui ver o mar porque me acalma,
Sentado nas dunas, olhei a sua imensidão,
Ouvir a fúria das ondas, serena-me a alma,
Com o salgado da água, lavo as feridas do coração.

Vejo a vaga mais forte, espraiar,
Morrer na areia, sem alarido,
Ou a mais pequena derrubar,
Quem passa mais distraído.

Avisto no Céu as gaivotas voando,
Sem norte, todas juntas ao monte,
Os meus olhos agitados vão descansando,
Quando os fixo lá longe, no horizonte.

E chegam os barcos dos bravos pescadores,
As pessoas reúnem-se à roda no areal,
E no mar rebelde afogo as minhas dores,
Ponho à deriva o que cá dentro me faz mal.

E mergulho sem sair daqui no mar profundo,
Enquanto o barco vinca a areia com a quilha,
Fecho os olhos e isolo-me deste Mundo,
Faço de mim fortaleza, a minha secreta ilha.

Defendo-a dos ataques e qualquer investida,
Bato-me feroz, destemido e com coragem,
Quem dera que o que de mau há na vida,
Não fosse mais do que uma triste miragem.

O Sol, vai agora descendo lentamente,
Fundindo-se em laranja fogo no oceano,
Percorro os cantinhos recônditos da mente,
Tento encontrar em mim um sinal humano.

A Lua vai subindo trazendo de prata um brilho,
E o mar acalma-se, enamorando-se dela agora,
E eu ao vê-los assim, encontro o meu trilho,
Mais calmo, sem ruído, afasto-me e vou embora.

Mas sei que posso sempre aqui voltar,
E consultar sem falar estes dois sábios,
Sentar-me a olhá-los e depois voar,
Para junto de ti, para os teus lábios.

Luis Miguel Branco