quinta-feira, junho 17, 2004

Viver no Zoo!!!

Acho que me vou pirar para Sete Rios.
Não, não vou morar para nenhuma das penthouses dos novos hotéis que por lá abriram, nem para as Twin Towers.
Quero ir morar para o Jardim Zoológico de Lisboa.
É que morar no meio de bichos bípedes em Santa Marta do Pinhal, revelou-se tarefa quase impossível de aguentar.
Prefiro viver num sítio em que consiga desculpar a vizinhança por ser dotada de uma irracionalidade explicável, do que viver num prédio rodeado de animais (bestas, mulas, macaquitos, ratos e cobras).
Os vizinhos são provavelmente a maior praga que afecta a vida em sociedade.
São piores que os colegas de trabalho, os chefes, os pedintes romenos que nos cravam nos semáforos do Largo do Rato, os filhos da puta dos GNR que nos multam sem fazermos nada, etc..
Por exemplo:
No outro dia, às 11 horas da matina e após algum tempo a seduzir a Maria, lá concordámos em rebolar por cima das mantas, com uns beijinhos, umas apalpadelas no befe, uns sussurros ao ouvido e quando demos por isso, estávamos de tal maneira embrulhados que nem nos apercebemos que realmente o que fazíamos era o que cientificamente se chama de sexo.
Ora, não há por certo nada melhor.
Eis senão quando e em pleno acto, se ouve ao fundo e por entre as respirações ofegantes e gemidos contorcidos de prazer, a puta da campaínha da porta!!!
Porra, pá!!!
"Deus queira que não seja nenhuma das sogras, senão telefono já para o raio do asilo"- pensei eu num repente.
Perdido que estava o entusiasmo entretanto ganho por ambos, desci vertiginosamente da cama, dirigi-me ao guarda-fatos e vesti aquele roupão de feltro que me pica todo, passei-o por cima do corpo, atando-o com um nó forte, de maneira a que o Jardelzinho (ainda firme e hirto que nem o Mastro principal do Navio Escola Sagres) não viesse espreitar e fui abrir a porta.
Destranco as 4 voltas da chave, retiro a tranca de segurança, as 2 voltas da outra fechadura ( tenho um sistema de porta que me lembra Fort Knox) e entreabro a porta...
Do outro lado está o parolo do vizinho do lado, com os seus oculinhos Sumol carica do homem aranha, um sorriso estupido na puta da tromba que me pergunta:
"Bom dia, cheira a queimado. É daí??"
Man...
Respondi num seco "Não!!!!!" e fechei a porcaria da porta ainda a tempo de me controlar, porque subiu por dentro de mim uma vontade ainda mais forte de lhe saltar para as ventas e de lhe dar tanta chapada naquela cara de retardado, que lhe transferisse todos os pontos negros para um só lado do focinho.
Porra, pá!!!!
Cheira a queimado????
Um gajo até estava a curtir, devagarinho, a saborear a onda... E vem um cabrão destes com uma pergunta que tirava a tesão ao próprio Jonh Holmes!!!!
Depois de uma pergunta destas, a porca da Cicciolina ficava frígida por certo!!!!
Mas o pior disto tudo é que dois dias depois, o mesmo camelo voltou a fazer-me o mesmo!!!
Desta vez era a luzinha por cima da porta que estava acesa!!!
Lá teve o belo do artista de parar e ir apagar a luz, porque fazia impressão ao senhor!!!
Porra, os leões e as zebras não fariam isto.
Existe outro, que insiste em tocar acordeão às 8 da manhã!
Não há respeito, pergunto eu???
Mas isto afinal é um prédio ou o Conservatório Nacional???
Mas eu pedi para ser vizinho do merdoso do Quim Barreiros????
Ainda se o urso afinasse e tocasse sem se enganar, variando o reportório de vez em quando...
Mas não. O raio da sanfona ou realejo (ou o raio que o parta), chia que se desunha e já dou por mim a ir para o trabalho entoando baixinho (ao contrário do pseudo-musico) "As Pombinhas da Catrina"!!!
Rebentei e não me segurei.
Primeiro tentei a via diplomática e pedi-lhe encarecidamente que me deixasse dormir mais um bocadinho, que respeitava a arte dele (porque outrora também fui músico) e que tocasse só mais baixinho.
Esta tentativa negocial gorou-se e aí explodi!!!
Levantei- me da cama a custo num Domingo às 5 para as 8 da madrugada e preparei o plano de vingança...
Fui buscar tudo quanto era coluna de aparelhagem que houvesse lá por casa e juntei-as todas com as saídas voltadas para o chão.
Depois, liguei os fiozinhos todos ao amplificador do HI-FI mais potente que possuo.
Em seguida, inseri no leitor um CD que me atormenta pessoalmente e que só uso em ultimo recurso: Sepultura.
Escolhi a faixa em que não se percebe rigorosamente nada do que o gajo diz (tal não é o basqueiro de gritos, guitarras distorcidas e bateria a bombar) e pus na pausa.
Aguardei pacientemente que as badaladas soassem e...PLAY!!!!
AH!!!!
10 minutos mais tarde o sacana do acordeonista veio tocar-me à campaínha dizendo que lhe caíra o estuque do tecto...
Ai querem guerra, suas bestas cúbicas?!?!?
Neguei veementemente, dizendo que também tinha sido acordado violenta e estridentemente com aquilo.
Mas o pior e "piéce de resistance", foi a cabra (como vêm são só animais) da vizinha de baixo.
Certo dia, a Maria estava de cama devido a um problema que de tempos a tempos a afecta, e eu, num acto de marido exemplar, decidi ir estender a roupita que estava na máquina.
Até aqui nada de extraordinário.
A vaca estava de varanda a ratar na pele dos outros mais outra das vizinhas (num dolce fare niente) e teve um rasgo de comediante:
"Oh vizinho.Desculpe lá?? Perguntar não ofende, pois não??"
E eu, de boa fé..."Não!!"
"Você vai-me desculpar, mas não se sente enfeminado por estar a estender roupa???"-continuou a cascavel.
Eu, calmamente lhe respondi que não e (pasme-se) até lhe expliquei a razão de tal acto.
Meti-me para dentro da janela, pensando na estupidez da pergunta, quando oiço as duas mulas a rir da figura cá do artista.
Enfiei a corneta de fora e dirigi-me à porca que me altercou:
"Oh vizinha, já que estamos numa de perguntar não ofende, diga-me cá uma coisa."
Ela, a víbora enche o peito como as galinhas e diz:"Diga lá, atão???"
Retorno eu:"Levar no cu dói????"
Refira-se que até hoje continuo sem resposta...
Ainda aventei antes de num hilariante orgasmo do ego me enfiar de novo para dentro, regozijado e rindo com a boca de espanto e horror que aquele hipopótamo fez, "Oh vizinha..."
Batemuma